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Independência não se faz no grito
Quando pensamos na Independência do Brasil, nos lembramos dos quadros imponentes que retratam como figura central o príncipe regente D. Pedro. Para além do evento ocorrido em sete de setembro de 1822 no Ipiranga, o processo da separação política do Brasil foi complexo e com diversos desdobramentos nos anos seguintes e em diversas regiões brasileiras. Muitas pessoas participaram e tiveram papeis importantes nesse processo, além do príncipe regente D. Pedro. A atuação de algumas mulheres estão surgindo no panorama da pesquisa histórica. Vamos conhecer um pouco sobre outros eventos e sobre mulheres que foram protagonistas nesse importante capítulo da história brasileira.
A data oficial da independência do Brasil, o Sete de Setembro, está associada à proclamação feita pelo príncipe D. Pedro, em 1822, às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo. Mas somente décadas depois a data começou a ganhar importância no calendário de comemorações oficiais do Império. Antes disso, outras datas foram pensadas para comemorar a independência do Brasil, entre elas,
a convocação da Assembleia Constituinte (3 de junho),
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o decreto de D. Pedro declarando inimigas as tropas portuguesas que desembarcassem sem seu consentimento (1º. de agosto),
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o Manifesto aos Povos do Brasil, de Gonçalves Ledo (1º. de agosto),
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o Manifesto aos Governos e às Nações Amigas, de José Bonifácio (6 de agosto),
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o decreto assinado pelo Conselho de Estado presidido pela princesa Maria Leopoldina (2 de setembro),
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a aclamação de D. Pedro como imperador constitucional do Brasil (12 de outubro),
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a coroação de D. Pedro I (1º. de dezembro).
Uma mulher decretou a independência do Brasil?
Em 13 de agosto de 1822, D. Pedro viajou para São Paulo deixando a regência entregue a sua esposa, D. Maria Leopoldina. Usando seu atributos de chefe interina do governo, a princesa regente presidiu o Conselho de Estado na sessão do dia de 2 de setembro na qual deliberou a separação entre os dois reinos. A deliberação foi registrada na ata e assinada por todos os ministros. Documentos afirmam que a independência do Brasil foi oficialmente decidida nesta ocasião.
Após a assinatura do decreto, Leopoldina enviou cartas a D. Pedro, sua e do ministério, relatando as novidades. Segundo José Honório Rodrigues (1975: 283), haveria também uma correspondência de José Bonifácio, na qual ele afirmava: “Senhor, o dado está lançado: de Portugal não temos a esperar senão escravidão e horrores“. As cartas chegaram a D. Pedro no dia 7 de setembro de 1822, quando o príncipe se encontrava, com sua comitiva, às margens do rio Ipiranga, em São Paulo.
O resultado foi o conhecido brado de “independência ou morte“, isto é, o grito do Ipiranga. “Entretanto, para os contemporâneos, este fato não teve significado especial, sendo noticiado apenas sob a forma de um breve comentário no jornal fluminense O Espelho, com data de 20 de setembro” (Neves, 2011: 96).
O episódio do Ipiranga não teve repercussão no momento que ocorreu. Somente após 1860, o Sete de Setembro começou a ganhar importância no calendário oficial do Império. “O grito do Ipiranga”, detalhe, Pedro Américo, 1888..
No final do século XIX, os paulistas trataram de marcar o feito ocorrido em seu território: entre 1885 e 1890, construíram o majestoso “Museu do Ipiranga” (Museu Paulista), no suposto local do famoso “grito”. Em 1888, Pedro Américo concluiu a emblemática pintura O grito do Ipiranga (popularmente conhecida como Independência ou morte) para decorar o museu ainda em obras.
Com a República, o Sete de Setembro tornou-se data nacional, virou feriado e foi festejado com desfiles militares, discursos de autoridades e outras manifestações.
Revisão da História
A historiografia atual tem revisto a construção do Sete de Setembro como data nacional da emancipação do Brasil. O episódio do Ipiranga, com exceção das províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, não teve repercussão no resto do país no momento em que ocorreu.
Sequer havia consenso entre os diferentes segmentos da sociedade em apoiar a separação do país de sua metrópole. Além disso, as enormes distâncias dificultavam a comunicação de muitas províncias com a capital. O Piauí, o Maranhão e o Pará tinham pouca (ou nenhuma) comunicação com o Rio de Janeiro e obedeciam a Portugal. Após o Sete de Setembro, quase metade do país estava mergulhada em conflitos armados que ameaçavam retomar o domínio português.
Cachoeira, a cidade pioneira da independência
Em 25 de junho de 1822, a Câmara Municipal de Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano, a 120 km de Salvador, proclamou seu rompimento com Portugal, apoiada pela população e pelas tropas locais. Sofreram, por isso, a intervenção militar da Coroa portuguesa.
No mesmo mês, um navio militar comandado pelo almirante português Madeira de Melo, chegou à Cachoeira pelo rio Paraguaçu decidido a submeter o povo às ordens de Portugal. A população reagiu e o confronto resultou em bombardeamento e tiroteio até a captura e prisão dos militares portugueses.

O Dois de Julho
O sucesso dos “brasileiros” de Cachoeira contagiou outras vilas do Recôncavo que aderiram à resistência e a rebelião se propagou. O movimento ganhou força e a guerra pela independência se alastrou por um ano. Nas lutas destacou-se Maria Quitéria de Jesus Medeiros que, vestida de homem (era chamada de “soldado Medeiros”), integrou o batalhão “Voluntários do Príncipe D. Pedro” e acabou sendo condecorada com a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul. Outra participação feminina na guerra da Bahia foi a da negra Maria Felipa de Oliveira, natural da ilha de Itaparica; ela liderou um grupo de mulheres que ateou fogo em 42 embarcações portuguesas.
Finalmente, em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo e seus homens foram expulsos da Bahia. A notícia da vitória da Bahia chegou ao Rio de Janeiro quatorze dias depois, trazida pela sumaca São José Triunfante.
O Dois de Julho é festejado até hoje como a data da independência da Bahia e, em junho de 2013, foi oficializado como data histórica nacional. Nas comemorações, desfilam os tradicionais carros da Cabocla e do Caboclo que representam a participação indígena na guerra. Na cidade de Caetité, que festeja a data com grande pompa, a figura de uma cabocla surge num dos carros, matando o “Dragão da Tirania“, que representa o colonizador português vencido.
Em reconhecimento histórico pelos feitos de Cachoeira em prol do país, a cidade ganhou o título de “Heroica” e, todos os anos, no dia 25 de junho, a capital do estado é transferida para esta cidade. Aliás, a Cachoeira já foi capital da Bahia por ocasião da revolta da Sabinada, em 1835, quando o governo deposto de Salvador refugiou-se naquela cidade
A guerra no Piauí, Maranhão e Ceará
Em outubro de 1822, na cidade de Parnaíba, no norte do Piauí, o povo se levantou para aclamar D. Pedro I como imperador do Brasil. Imediatamente, de Oeiras, capital da província, partiu a tropa portuguesa comandada pelo major João da Cunha Fidié para sufocar a rebelião. Enquanto Fidié lutava no norte, a população de Oeiras também se sublevou.
Ao mesmo tempo, “brasileiros” do Maranhão e no Ceará aderiram à independência. No Ceará, o líder sertanejo José Pereira Figueiras, comandando o povo, tomou Fortaleza de assalto, depondo o governo português e formando um novo governo fiel à emancipação.
Em São Luís, no Maranhão, onde o governo aliado a Portugal ainda tentava resistir, a independência foi aclamada pelo povo com a chegada da esquadra sob o comando do almirante Cochrane (28 de julho de 1823)

Concluindo
A independência do Brasil foi feita de várias datas, anteriores ao Sete de Setembro de 1822 e que vão muito além dele. Não foi um movimento pacífico e ordeiro, como ainda afirmam alguns. Ao contrário, foi marcado por conflitos sangrentos entre brasileiros e portugueses.
Tampouco a separação se firmou rapidamente. Na verdade, o Primeiro Reinado (1822-1831) foi um período turbulento em que D. Pedro I de herói popular foi, nove anos depois, obrigado a abandonar o trono. Para alguns historiadores, a independência só se consolidou após a abdicação.
Como lembra Alfredo Bosi, em O tempo e os tempos, “datas são pontas de iceberg”. Em cada data que marca um acontecimento, existem outros acontecimentos submersos
Fonte
NEVES, Lúcia Bastos Pereira das. A vida política. In: SCHWARZ, Lilia Moritz (dir.) História do Brasil Nação: 1808-2010, v. 1: Crise Colonial e Independência, 1808-1830. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
SALGADO, Aline. Gritos de independência. Revista de História, 01/06/2013.
CASTRO, Francisco. A guerra do Jenipapo. São Paulo: FTD, 2002.
NEVES, Abdias. A guerra do Fidié. Uma epopeia brasileira na luta pela independência. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
THIAGO, Caio e AURÉLIO, Bernardo. Foices e Facões: a Batalha do Jenipapo. História em quadrinhos. Teresina: s/ed. 2009.
DIAS, Claudete Maria Miranda. Entre foices e facões. Revista de História, 06/07/2011.
COELHO, Geraldo Mártires. Anarquistas, demagogos e dissidentes: a imprensa liberal no Pará de 1822. Belém: Cejup, 1993.
REIS, Arthur César Ferreira. “O Grão-Pará e o Maranhão”. IN. HOLANDA, Sérgio Buarque de (org.) História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: Difel, 1978, tomo II, v. 2, pp.71-139.
RICCI, Magda. Dias trágicos. Massacre no Grão-Pará fez mais de 250 mortos entre os defensores da Independência. Revista de História, 16/09/2009. RODRIGUES, José Honório. Independência: revolução e contrarrevolução. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975, v.5: A política internacional. Adaptado de Blog Ensinar História, de Joelza Ester Domingues. Disponível em: <https://ensinarhistoria.com.br/independencia-nao-se-faz-no-grito/> . Acesso em 27 ago. 2021.