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VAMOS COMEÇAR...

Quando estudamos o processo de ocupação e colonização da região sudeste da América Portuguesa, aprendemos sobre os movimentos denominados de entradas, bandeiras e monções.

Como se sabe, as entradas foram organizadas pela Coroa portuguesa e as bandeiras eram expedições particulares realizadas pelos paulistas. Esses movimentos ocorreram entre os séculos XVII e XVIII e dedicaram-se à prospecção de metais preciosos e aprisionamento de indígenas. Os bandeirantes também atuaram na destruição de quilombos, como o paulista Domingos Jorge Velho que foi contratado para exterminar o Quilombo de Palmares e seus moradores.

Por outro lado, as monções foram viagens fluviais - diferenciam-se das entradas e bandeiras por utilizarem os rios como principal rota para as minas de Cuiabá. Partiam de Araritaguaba (Porto Feliz) percorrendo nove rios até o atual estado do Mato Grosso. Este movimento durou mais de cem anos, de 1720 até 1826. As primeiras expedições tinham por objetivo a mineração do ouro recém-descoberto por Pascoal Moreira Cabral em 1719.  Após a criação do povoado e vilas mineradoras no interior do território, as viagens fluviais assumiram característica comercial para o abastecimento de tecidos, ferramentas, comida e remédios. Existiam rotas terrestres, mas os viajantes realizavam as viagens pelos rios pela grande capacidade de transporte de carga que as canoas permitiam, aproximadamente 4 toneladas.

Nos últimos meses, você deve ter visto nos noticiários o incêndio da estátua de Borba Gato e o debate sobre a imagem dos bandeirantes.

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 A discussão sobre os monumentos e marcos de memória relacionados à escravidão não é nova e tem movimentado muitos grupos no mundo. No ano passado, sob influência do movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam) manifestantes derrubaram uma estátua do traficante de escravos Edward Colston, em Bristol, na Inglaterra. A estátua de Colston foi enviada ao museu e exposta deitada e com as marcas resultantes das intervenções dos manifestantes. A escolha de apresentar a estátua em posição diferente (deitada) e sem apagar os danos sofridos é muito interessante, pois o museu optou por exibir um artefato com toda a sua trajetória: do momento histórico que escolheu Edward Colston como merecedor de homenagem e do atual, que contesta e ataca seu monumento.

        Os atos contra monumentos ressaltam os usos políticos do passado. Longe de ser neutra, a história é um campo do conhecimento em constante debate e reconstrução. Os atos ocorridos nos últimos anos nos alertam que a memória é um terreno de disputa e está completamente relacionada ao nosso contexto atual.

        Desta forma, os museus têm importância crucial no debate sobre a construção dos personagens e como a sociedade se relaciona com sua história. Sabemos que a figura heroica do bandeirante foi criada com muito sucesso pela elite paulista cafeeira na década de 1920, como forma de exaltar a participação paulista na formação do território brasileiro e automaticamente, reforçar sua hegemonia perante os demais estados brasileiros. A criação do Parque das Monções, em 1920, está relacionada a esse projeto paulista de engrandecimento de um personagem a nível nacional para valorizar e justificar o poder dos cafeicultores paulistas no início do século XX. Ao estudarmos as bandeiras e as monções, não aprendemos apenas sobre o período colonial, mas também e, principalmente, sobre o século XX, que revisitou, selecionou e caracterizou o viajante paulista como o sujeito mais importante para a história nacional.

        Nesta perspectiva, o Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga) tem uma exposição on-line que trata dessa construção da imagem do bandeirante, ressaltando elementos que compõem as estátuas e quadros em suas exposições. Confira no próximo botão.

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